























CASA CUNHA
Localizada na zona rural de Cunha, no alto da Serra do Mar, esta residência ocupa uma posição privilegiada no topo de um morro, com vistas amplas e desobstruídas em todas as direções. A implantação parte do desejo de valorizar o horizonte contínuo da paisagem, criando uma relação constante entre o espaço construído e o horizonte.
O partido arquitetônico organiza a casa como um percurso, quase como um passeio guiado por diferentes enquadramentos da paisagem. Em cada deslocamento, abrem-se perspectivas distintas sobre a cadeia de montanhas, os vales e o céu mutável da serra. Um dos elementos centrais para essa experiência são as janelas de quina, vidro com vidro, que dissolvem o limite físico e ampliam a continuidade visual, reforçando a sensação de imersão no entorno natural.
A volumetria se desenvolve em blocos de diferentes dimensões e alturas. Essa variação cria hierarquias de uso — dos espaços sociais amplos às áreas mais reservadas — e, ao mesmo tempo, estabelece um diálogo com a topografia acidentada. A casa não busca mimetizar a montanha, mas se integra a ela pela disposição escalonada dos volumes e pelo embasamento firme, que ancora a construção no terreno. Em contraponto, o deck de madeira avança sobre o declive com leveza, projetando o observador na direção do horizonte. A estrutura esbelta do deck cria uma sensação de suspensão, intensificando a experiência da paisagem.
A materialidade retoma referências das antigas casas de fazenda, reinterpretadas sem romantização. O piso em pedra Goiás, a alvenaria rebocada e caiada de branco, o embasamento em pedra e as esquadrias de madeira compõem uma paleta que remete ao universo rural, mas que é organizada segundo princípios de uma arquitetura contemporânea. Esse diálogo entre o vernacular e o atual é reforçado por elementos centrais de convivência, como a grande lareira e o fogão a lenha vermelho, que aquecem e animam os espaços internos.
Internamente, a casa privilegia a luz natural e a ventilação cruzada, permitindo que as variações de clima e luminosidade típicas da serra participem da vivência cotidiana. Os ambientes foram dispostos de forma a oferecer diferentes formas de contemplação — seja a vista distante das montanhas, seja o contato próximo com a vegetação nativa que circunda a construção.
O resultado é uma casa que habita a paisagem de forma assertiva, mas sem competir com ela. A arquitetura atua como mediadora entre o corpo e o território, conduzindo o olhar e o deslocamento, e criando uma relação equilibrada entre permanência e contemplação. É um projeto que reafirma a capacidade da arquitetura de transformar a experiência do lugar, valorizando a paisagem e o modo de viver que ela inspira.


CUNHA - SP, 2024
300 m²
FOTOS: CAMILA ALBA